Parque Municipal da Quinta da Conceição

Matosinhos, 1960

O Parque foi um Convento de frades que se instalaram ali no séc. Xv e, depois, uma propriedade particular. Existiam a avenida, a capela, o claustro, os tanques e portanto havia já elementos que garantiam uma estrutura a manter. A sua realização durou anos. O município pagava-me ao fim de cada ano segundo a obra feita.

Eu funcionei ali como o padre prior do convento. Caminhava com os pedreiros e jardineiros indicando-lhes o que deviam fazer. Havia um encarregado que me dava os seus conselhos, muitas vezes seguidos. Tudo isto se passava numa situação muito familiar, quási doméstica, mercê do apoio do Presidente da Câmara, homem muito sensível, para quem o dinheiro não tinha grande significado e considerava que o importante era fazer as coisas bem feitas. 

Quando comecei o Projecto do Parque, dei-me conta de que o plano de acessos do Porto de Leixões o afectava. A zona do claustro era cortada e o nó viário tinha um conflito frontal que era desastroso. Decidi levar ao Director-Geral do Porto uma solução para o traçado dos acessos e resolver o problema do nó que havia detectado. Ele ficou encantado. Daqui nasceu mais um amigo e o Plano Geral do Espaço Portuário que então elaboramos… 

Fernando Távora, Porto, 1980

Devo dizer que há muitas obras que fiz e de que não gosto, ou porque foram realizadas com pressa (o tempo é bom conselheiro) ou porque o meu momento ou as condições não eram favoráveis; mas vejo-as sempre com muita saudade como acontece com as mulheres outrora amadas. 

O Pavilhão de Ténis é uma das obras de que ainda gosto e recorda-me momentos de grande convicção e esperança profissional. O problema que se colocava era o de marcar o parque com um edifício, criando ali um objecto dotado de presença, que afirmasse o eixo dos campos de ténis e que servisse como ponto de referência, tal como acontece com a piscina de Siza. O mais curioso é que a tribuna do pavilhão não funciona porque é desconfortável e a visibilidade sobre os campos é má; tal facto não me preocupa grandemente por- que se trata de mais um caso, entre tantos, em que o elogio máximo que pode fazer-se-lhe é o de que não serve para nada, excepto, naturalmente, as suas instalações situadas em baixo…

Fernando Távora