Casa dos 24

Porto, 1995

A cerca de seis metros da torre da Sé Catedral do Porto foi levantado no Século XV, […], um edifício-torre para instalação dos Paços do Concelho, conhecido por Casa dos Vinte e Quatro, uma vez que também ali se reuniam  as Corporações. O edifício, que se sabe ter tido 100 palmos de altura, a sala ao nível do terreiro da Sé e outra ao nível da Rua de S. Sebastião, foi objecto de acidentes vários até ao seu quási desaparecimento. Recentemente foi objecto de escavações e da recuperação de alguns muros, facto que tornou mais clara a sua possível forma original. 

[…] é intenção do projecto proposto a sua transformação em memorial recordatório de longos anos de vida de história da cidade do Porto, pela criação de um objecto arquitectónico, que invocando a torre outrora existente, em diálogo com as restantes da Sé e do Arquivo Histórico, possua um espaço interno capaz de emocionar os seus visitantes recordando-lhes tão glorioso passado. 

Uma estrutura de paredes em U, repousando sobre parte da ruína existente, limita o edifício por três lados, enquanto o quarto se abre […] à leitura da Cidade. Se a volumetria exterior do novo edifício-objecto […] sugere o dimensionamento, e a forma da casa torre evocada, o seu espaço interno, com acesso fronteiro à Sé, cresce fortemente num apelo vertical, deixando pressentir a sua altura de 100 palmos, em parte percorrível por dupla escada, e afirma-se também frontalmente sobre a cidade que […] se oferece à contemplação. 

O granito em paredes exteriores e interiores, o ferro corten em pilares e vigas, o latão em caixilhos compor- tando vidros duplos ou a madeira de castanho, forrando pisos e escadas, tudo se conjuga para o reforço de uma sóbria expressão dos espaços que, exteriores ou interiores, acompanham e condicionam o visitante. […] O projecto presume a remodelação da zona do acesso à Sé Catedral pela Calçada de Vandoma e todo o arranjo da área envolvente ao memorial de modo a prestigiar e a introduzir nova leitura do local mais nobre da Cidade do Porto.


Fernando Távora, Porto, 1996